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DESPORTO ADAPTADO CAMPANHENSE

DESPORTO ADAPTADO CAMPANHENSE

Esta reportagem do Campanh’UP dá continuidade à temática desportiva, desta feita com enfoque no desporto adaptado na nossa freguesia, no rescaldo dos Paralímpicos de Paris 2024 em que Portugal conquistou 7 medalhas (2 ouro, 1 prata e 4 bronze), que assim se somam às 94 conseguidas em 11 participações em edições anteriores. Olhámos para o nosso território e, em especial para o trabalho que a APPC (Associação do Porto de Paralisia Cerebral) tem vindo a desenvolver em prol da integração desportiva dos seus utentes. Nesse sentido, conversámos com a Ana Lages, fisioterapeuta da APPC que acompanha alguns destes atletas; com o Pedro Fernandes, árbitro internacional que participou em diversas competições, incluindo os Jogos Paralímpicos (desde os Jogos de Barcelona em 92!); e ainda com dois atletas da APPC de classes desportivas diferentes e em fases diferentes da sua carreira – o Nelson Fernandes e o Armando Costa que em muito contribuíram para o nosso sucesso nacional em Desporto Adaptado ao ganhar várias medalhas a nível internacional.

A APPC serve os seus quase 4000 utentes há 50 anos como uma instituição de renome da cidade, com uma relação estreita com a comunidade local onde foca a sua atenção não só na reabilitação, tratamento e acompanhamento dos seus utentes, mas também na sua integração em diversas esferas sociais como o mercado de trabalho ou a prática desportiva.

É neste último ponto em que o Campanh’UP se vai debruçar na última reportagem deste ciclo. O acesso ao desporto adaptado na freguesia e as contribuições da APPC para o crescimento do mesmo no país, focar nas pessoas que dedicaram o seu tempo a esta causa, sejam funcionários da APPC que ajudaram com toda a logística envolvida em inscrever e levar pessoas para competições do outro lado do planeta, pessoas que ajudaram na preparação destes atletas, ou os atletas em si que dedicam verdadeiros horários de trabalho ao seu treino técnico e preparação física para estarem aptos a enfrentar os desafios que os esperam.

A Ana Lages sentou-se para falar connosco um pouco da APPC e de como a associação foi capaz de apoiar o desporto adaptado, explicando-nos como a APPC encontrou no desporto uma ferramenta fantástica para devolver confiança e autonomia a estas pessoas  A Ana é fisioterapeuta da APPC há muito tempo e acompanhou muitos das crianças e utentes que passaram pela APPC, sendo algumas delas atletas que representam o nosso país lá fora em competições internacionais como Campeonatos do Mundo ou Jogos Paralímpicos

Durante muitos anos, a maioria dos atletas que representavam a seleção representavam também a APPC. Sendo reflexo do trabalho incansável que a associação tem efetuado, também demonstra um vácuo de oportunidades. Seria porque a APPC tem boas condições e por isso atrai os melhores atletas? ou porque a pouca oferta de acesso ao desporto adaptado leva a que estas associações, cujos objetivos primários nada têm a ver com o desporto de competição, se tornem “clubes” de eleição para satisfazer essa procura?

Tivemos a oportunidade de visitar a APPC durante uma competição de Boccia entre associações locais e aí conhecemos o Nélson Fernandes. Impedido de participar na competição devido a uma lesão, não se importou de interromper por uns momentos a sua recuperação para conversar um pouco sobre o seu percurso. Explicou-nos como a sua modalidade é dividida em categorias e contou-nos o seu trajeto. Como se tornou campeão europeu numa competição na Povoa de Varzim, merecendo assim a convocatória à seleção que viajou para o Japão em 2021 para os Jogos Paralímpicos, levando a nossa seleção até às meias finais onde arrecadou uma medalha de bronze.

Revelou o quanto custa sentir que o esforço empregado não é visto ou reconhecido pela imprensa da mesma forma que outros atletas em outras modalidades, e não se coibiu de destacar o esforço da APPC na sua preparação e o sucesso dos seus colegas de modalidade que tinham chegado medalhados do Cairo apenas dois dias antes de conversarmos.

Entre os atletas que competiram no Campeonato do Mundo de Boccia no Egipto podemos encontrar o Armando Costa, o Campanh’UP encontrou-se com ele na Villa da APPC em Valbom.

Com um palmarés invejável, destacamos aqui apenas as suas conquistas em Jogos Paralímpicos, começando com uma medalha de ouro nos Jogos de 96 em Atlanta, uma medalha de prata nos Jogos de 2000 em Sydney, outra medalha de prata nos Jogos de 2008 em Beijing e para terminar mais uma medalha de prata nos Jogos de Londres em 2012, totalizando em 4 medalhas ganhas ao longo de 36 anos, porque Armando ainda não desistiu de ganhar. Durante esta entrevista o Armando estava com a voz fragilizada na sequência do esforço da recente viagem – acabara de voltar do Campeonato do Mundo de Boccia no Egipto onde se ficou pelos quartos de final desta vez.

O Armando mudou-se da sua aldeia em Cinfães para residir nas instalações da APPC em Campanhã e Valbom quando tinha 16 anos, por volta do tempo em que a APPC começou a apostar em jogos como o Boccia para estimular os seus utentes. Não iria tardar muito até, em 1996, o Armando estar a competir nos Estados Unidos pela medalha de ouro da modalidade.

O Ricardo, que podemos ouvir na entrevista a auxiliar o Armando, é professor e treinador, tendo experiência na APPC e na seleção portuguesa (também o podem ver na reportagem a arbitrar o torneio interassociações que decorreu na APPC), esclarece os diversos desafios que os atletas enfrentam nas suas jornadas e conta algumas histórias das experiências deles.  Abordamos a melhoria nas ajudas governamentais aos atletas nos últimos anos, que recentemente foram equiparadas às dos atletas que competem nos Jogos Olímpicos em vez dos Paralímpicos. Levantaram-se também algumas perguntas quanto à necessidade do Boccia ser considerado Desporto Adaptado em vez de ser apenas Desporto.

A APPC recentemente tomou a decisão de se retirar do panorama desportivo das competições de forma a não se desviar da sua missão inicial. No entanto continua a apoiar os seus utentes que competem com as suas instalações, tratamentos, alojamento e a boa disposição que lhes é caracteristica.

Uma das soluções encontradas dentro da associação foi a possibilidade de funcionários da APPC que queriam continuar a acompanhar os atletas, criarem os seus próprios clubes desportivos que acompanhem os atletas como foi o caso do Ricardo Neves com quem falamos nesta reportagem.

O Ricardo Neves criou o seu próprio clube que treina semanalmente no ginásio da Faculdade de Desporto do Porto. O Desporto sobre Rodas permite a atletas da cidade jogarem andebol adaptado. Nas imagens que captámos para o Campanh’UP, vemos o último treino antes de alguns destes atletas viajarem para o Cairo para representarem a seleção portuguesa. Como podemos ver, o desporto adaptado continua em força na nossa freguesia, e a APPC, pese embora não tenha mais atletas a representar a associação, continua a formá-los e a acompanhá-los, pessoas como a Ana Lage e o Ricardo Neves continuam com a missão de trazer novas possibilidades a crianças que se apaixonam pela modalidade e apresentar-lhes o mundo, treinarem horas a fio para dominarem técnicas quando muitas vezes o próprio corpo deles luta contra o seu progresso, conquistado diariamente.

 

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